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Foto do escritorArnon Jr. Moreira

SDRA, o mal que a Covid19 trouxe à tona é mais comum do que se pensa.

Atualizado: 2 de mai. de 2022

Há alguns meses fomos pegos de surpresa por uma nova e devastadora forma de doença respiratória que, além de encher nossas cabeças com teorias conspiracionistas, ainda apavora os profissionais de saúde ao redor do mundo inteiro. Seja pelo seu alto potencial de infecção, ou pelo fato de não conhecermos muita coisa a seu respeito como origem ou tratamento específico mais eficiente, esta produziu um número elevado de vítimas fatais em um espaço de tempo que poucas vezes vimos acontecer na história da humanidade. Tal doença deriva de um tipo de vírus (Coronavírus) que não pensávamos ser capaz de tanto estrago, pois se relaciona com quadros respiratórios aos quais já estamos bem acostumados a manejar.

Porém o que se viu foi a aflição e frenesi dos maiores especialistas do assunto ao redor do mundo quando ficou claro que o problema era bem maior do que se esperava. Deram um nome para esta doença, Covid-19, no entanto ainda não descobriram (ou se o fizeram ainda não nos contaram) o 'calcanhar de Aquiles desta quimera. As primeiras indicações para o tratamento desta enfermidade foram as mesmas dadas a uma afetação presente no transcurso da mesma, a Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA), transtorno de carácter transitório na maioria das vezes e que também afeta recém nascidos. Não tardou muito até que, estes especialistas mencionados anteriormente, pudessem entender se tratar de algo muito mais séria e tenebrosa esta novidade que embarcou na China e alcançou proporções globais.

A sigla que traduz o termo Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) foi utilizada pela primeira vez em 1967, porém já as primeiras descrições precisas da afetação surgiram em meio à II Grande Guerra, quando soldados americanos a nomeavam de "Pulmão de Choque". Ratificando que 'choque' diz respeito a um estado hemodinâmico em que o paciente apresenta hipotensão arterial franca e compromisso da perfusão sanguínea ao longo do corpo, afetando tando as extremidades do corpo (braços e pernas) quanto os órgãos essenciais do tórax, abdômen e cabeça.

A SDRA representa uma grave injúria inflamatória pulmonar, que pode levar ao edema pulmonar (acúmulo de líquido no interior do órgão), à formação de membrana hialina (tecido espesso derivado do acúmulo de líquido, células e proteínas degradadas) e ao colapso de diversos alvéolos (região pulmonar onde de fato ocorre o intercambio de dióxido de carbono por oxigênio), cursando com insuficiência respiratória hipoxêmica (hipoxemia= baixos valores de oxigênio no sangue) pelo mecanismo de curto circuito intrapulmonar e infiltração de células que favorecem a inflamação. Tendo em consideração que o sangue é quem transporta a todas as regiões do nosso corpo os nutrientes que ele precisa, incluindo o oxigênio, qualquer fator que impeça os pulmões de aportar à corrente sanguínea o gradiente de oxigênio que nosso organismo necessita, põe em risco não só a função pulmonar como também o funcionamento adequado de todo o nosso organismo. Define-se por curto circuito intrapulmonar condições em que o sangue flui pelos pulmões porém não há o intercâmbio gasoso entre o órgão e a corrente sanguíneo (o oxigênio inalado pelo pulmão não pode ser substituído pelo dióxido de carbono que devia ser descartado).

O Pulmão é um órgão com grande propensão ao contato com agentes potencialmente lesivos (exógenos ou endógenos), seja através do ar inspirado, do material aspirado das vias aéreas superiores ou do estômago (comum em pessoas que padecem de vômitos a repetição, de refluxo gastroesofágico, alcoolismo ou tabagismo) bem como pela circulação sanguínea (os pulmões recebem simplesmente TODO o sangue que flui em nosso corpo, portanto, toda substância que não é filtrada no fígado circula por este órgão). Assim sendo, a SDRA se classifica em:
Injúria Pulmonar Direta: ocorrem quando o evento deflagrador está no pulmão, são a mais propensas a causar SDRA e se relacionam com condições como: aspiração do conteúdo gástrico, infecções pulmonares (pneumonia) bacterianas ou virais (como no caso da Covid, H1N1 e etc), trauma torácico grave (contusão pulmonar), inalação de produtos tóxicos, afogamento, ou eventos embólicos (trombos, líquido amniótico, gordura, ou mesmo ar).
Injúria Pulmonar Indireta: quando ocorre em consequência de uma patologia extrapulmonar, pode derivar de situações como: choque (independente do tipo), sepse, politrauma não torácico, grandes queimaduras, edema pulmonar neurogênico, hemotransfusão maciça, pancreatite aguda, overdose de drogas (ex.: heroína e outros narcóticos), circulação extracorpórea, pós-transplante pulmonar.
Algumas características do paciente, independente da etiologia de base, aumentam o risco de SDRA, com destaque para a idade avançada, abuso crônico de álcool, acidose metabólica (diabetes ou enfermidade renal crônica) e agravamento de doenças de base (hipertensão, cardiopatias, pneumopatias e etc).

A patogênese da SDRA não é totalmente conhecida. Contudo, atribui-se um papel de grande importante às células inflamatórias de defesa de nosso organismo (neutrófilos) que se aderem ao revestimento interno dos capilares alveolares (vasos sanguíneos onde ocorre o intercâmbio do dióxido de carbono sanguíneo pelo oxigênio pulmonar), liberando citocinas, radicais livres e proteases (enzimas que degradam as proteínas estruturais do pulmão), refletindo portanto em uma resposta inflamatória local e progressiva capaz de destruir rapidamente o tecido alveolar e diminuindo gradualmente a capacidade do pulmão para oxigenar nosso sangue. Uma vez em curso, a SDRA apresenta as seguintes fases evolutivas em relação ao estado clínico dos pacientes e aos estudos de biópsia:
a)Exudativa: é a fase de manifestação franca desta enfermidade, quando o paciente apresenta o pior aspecto tanto na biópsia (edema intersticial e alveolar proteináceo, congestão capilar, hemorragia alveolar, necrose dos pneumócitos tipo I e presença de membrana hialina revestindo a parede interna dos alvéolos) quanto na clínica, quando o encontramos francamente taquidispneico (dificuldade para respirar e aumento do números de ciclos respiratórios por minuto), taquicárdico (mais de 100 batimentos cardíacos por minuto), cianótico (coloração azulada das mãos, pés, lábios e etc) e agitado. As alterações em exames de imagem como radiografia e tomografia podem tardar pelo menos 24 horas para se manifestar e esta fase pode durar entre 7-10 dias. Em dependência da gravidade alguns pacientes podem requerer ventilação mecânica artificial (por entubação oro-traqueal).



b)Proliferativa: essa fase geralmente dura em média outros 15 dias e é nela que os pacientes começam a melhorar clinicamente e são desmamados da ventilação mecânica. Na biopsia se observa a regeneração das células e estruturas pulmonares.
c)Fibrótica: Apena alguns pacientes ingressam nesta fase (aqueles com mais complicações durante a fase exudativa) que é caracterizada por fibrose intersticial e dos ductos alveolares associados ao engrossamento e endurecimento dos vasos sanguíneos levando à hipertensão pulmonar. Esta condição se converte em crônica e uma vez instituída o prognóstico se torna bastante desfavorável.

Outros sintomas que também podem estar presentes em quadros de afetação respiratória grave são: batimento de asa do nariz, tiragem intercostal e supraclavicular, respiração abdominal. Sintomas como febre alta, expectoração purulenta, sibilos, hipotensão arterial e choque não são decorrentes da SDRA propriamente dita, mas podem estar presentes em consequência às mesmas causas básicas (pneumonia, contusão pulmonar, broncoaspiração etc.).

O tratamento da SDRA se baseia em medidas de suporte e no reconhecimento e resolução de sua causa. A terapia de suporte é fundamental para reduzir a mortalidade da doença e está centralizada na ventilação mecânica invasiva.

Mas como dito no início, a Covid-19 é uma enfermidade muito mais séria, que põe em risco não somente a vida do paciente, mas também a de todos os que estão à sua volta. Por isso torcemos para que os esforços de pesquisadores em todo o mundo produzam frutos, para podermos gozar não apenas de um tratamento específico, mas também de uma forma de segura de prevenção para este problema que parece ameaçar nossos planos super-populacionais aqui no planeta Terra.
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